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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Catos, Teatro, Borba e Elvas

 

         Plantámos os catos ao longo da cerca de metal que já existia. O objetivo era criar uma “cerca natural” que oferecesse algo mais do que proteção e delimitação do terreno. Neste caso, figos da índia! 

    Foi um trabalho engraçado! Eu e o João íamos à frente abrindo buracos com a enxada e a Valérie ia plantando os catos e tapando-os com terra outra vez. No final do processo, regámos cada cato com os garrafões que tínhamos enchido anteriormente. Como a previsão era de chuva para o dia seguinte, e como a chuva era boa para os catos mas um pouco mais desagradável para quem vai a pedalar, fizemos o esforço de deixar tudo bem regado para podermos desejar o Sol sem que ninguém fosse prejudicado.











        Aprende-se muito com a natureza e com quem trabalha nela. Senti que quero procurar ficar em mais quintas e fazer mais deste trabalho de campo, já vi que há varios projetos interessantes em plataformas como o Workaway.com nos países em que passarei. É sempre uma forma de aprender e conhecer outras realidades, e é grátis!

Voltámos para casa e depois de descansar e escrever, fui cozinhar o jantar com o Sinai, o filho mais novo. A ementa era bolonhesa vegetariana e sem grandes complicações ficou feita e bem feita! Com a Raclette, na minha primeira noite, tínhamos comido uns pickles e chutney caseiro e eu quis voltar a comer disto uma vez mais. Vai deixar saudades! 


O João faz parte do Colectivo Cultura Alentejo que é a companhia residente no Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz. O grupo, sem o João desta vez, andava a ensaiar uma peça sobre o 25 de abril e 4a feira era dia de ensaio. Quando me convidou para ir com ele, não hesitei. Nunca tinha visto um ensaio de uma peça de teatro, para além de que estava curioso. Seria esse então o programa para depois de jantar!



A sala principal do Teatro era mesmo muito bonita. As cadeiras de um veludo vermelho e todo o teto e estrutura da plateia ornamentada com dourados e brancos. Parecia que se estava dentro de uma igreja! 

Quando chegámos, o grupo de 4 atores passavam uma bola de ténis entre si enquanto iam recitando, cada um, o seu texto. Ao início nem percebi se estavam a conversar casualmente ou se era de facto parte do ensaio, mas rapidamente se desligaram as luzes e a camera começou a gravar. Foi interessante porque no final estivemos a discutir os 6 aquilo que era ou não percetível para o público, se as ligações entre as personagens e se o encadeamento de toda a história era claro. Adorei esta parte porque dei por mim a falar com cada um deles não como as pessoas que tinha ali à frente, mas como as personagens que representavam, de modo a entender se aquilo que interpretei era o que eles procuravam que fosse interpretado. 

Não vou dar grandes informações sobre o conteúdo da peça porque senti que era mesmo importante toda a gente ir ver. Fala da liberdade e da falta dela. Fez-me refletir que mais importante do que todas as comodidades, seguranças, proteções e planos que se possa querer ter, é a possibilidade de se escolher entre tê-las ou não. Fazermos o que quisermos da nossa vida. Vão ver, dia 24 e 25 de abril no Teatro Bernardim Ribeiro que, curiosamente, fica na Av. 25 de abril em Estremoz.


Hoje acordei cedo e comecei a colocar de volta as coisas na bicicleta. Tomámos o pequeno almoço juntos e fomos lá para fora para tirar as últimas fotos antes de eu partir, não sem antes a Valérie me ter feito sumo de laranja para eu levar numa das garrafas da bicicleta! As despedidas foram rápidas e já estava a chuviscar quando comecei a pedalar.





Tinha visto com o Sinai que talvez fosse melhor não ir pela estrada principal até Borba, para ir mais tranquilo, portanto cortei logo à direita na saída que dizia “Mártires” e fui sempre por aí saboreando a chuva e o vazio da estrada que ela trazia. Por aqueles campos, ouvia Vitorino e não sei se era da chuva ou da sua voz alentejana, mas de tempos a tempos algo se arrepiava em mim.

Cheguei a Borba e meti por umas ruelas procurando vislumbrar as muralhas, que me indicariam que estava no centro da Vila. Rapidamente dei com a papelaria do pai do Duarte e encostei a bicicleta à porta


- Então rapaz! Estás preparado?

- Tenho de estar…

- Pois! A gente mete-se nelas, temos de estar preparados!


Em 10 minutos pusemos a conversa em dia, interrompendo para explicar a quem chegava de quem era a bicicleta que estava à entrada e porque estava ali. Pouco depois, estava a contornar o centro de Borba e a entrar na Nacional 4, uma vez mais. 

Em cerca de 30km chegaria a Elvas, onde pernoitaria na casa onde em tempos vivera a minha avó e que mantiveramos sempre. Apenas parei na Terrugem para descansar um pouco, no pequeno jardim que existe logo à entrada, saindo da estrada.




Eram 14h quando cheguei ao icónico aqueduto de Elvas e apesar de ter passado pelo supermercado para comprar algumas coisas com a intenção de cozinhar mais logo, as minhas primas que vivem ali perto fizeram questão de me cozinhar uns bifes e arroz! 

Comi quanto pude, e quando não pude mais fui dormir uma sesta até ligar ao Ferraz, com quem falei durante algum tempo sobre o que tem sido esta experiência. 

Conhecia o Ferraz do atletismo, mas não tínhamos grande contacto nessa altura. Foi sim num jantar de aniversário de um amigo comum que descobrimos que os dois tínhamos curiosidade pelas viagens e por experimentar andar à boleia. Não nos vimos mais durante alguns anos, mas no verão de 2022, quando comecei a magicar uma viagem à boleia saindo de Lisboa, senti que queria ter companhia e senti que ele era a única companhia que fazia sentido. E assim fomos durante 3 semanas até Zurique, parando em vários lugares e vivendo dias inesquecíveis, acampando à beira dos lagos e comendo massa com salsichas. Agora, é das grandes amizades que eu tenho.


Às 20h30 apareceu o Duarte para jantarmos. Trazia carne com tomate, cozinhada pela sua avó. É claro que só podia estar excelente! Como é hábito nele, trazia também consigo uma garrafa de vinho alentejano da qual demos conta entre conversas.


Amanhã atravesso a primeira fronteira depois de ter atravessado aquela que separa o sonho da realidade. Às vezes, a mistura da realidade com o sonho resulta em coisas concretas que ficam para a vida.


Amanhã já será mañana. 

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