Saí de Elvas já passava das 10h. Ainda tive de arrumar tudo o que conseguira deixar espalhado pelo quarto em apenas uma noite. O Duarte, na noite anterior, bem disse
- Eh tu continuas o mesmo… Isso tudo praí aventado! - isto mais especificamente por ver que ainda trazia nos alforges a lata de feijões com chouriço que comi no 2º dia. Não encontrei nenhum caixote pelo caminho!
Até Badajoz escolhi ir por uma estrada secundária em vez de seguir pela principal onde até havia uma ciclovia. Era mais calmo e sempre gostei mais daquele caminho alternativo. Assim que cheguei à cidade, passei pela loja “La Bicicleta” para recolher alguns conselhos e para ver se me ajudavam com a postura na bicicleta. Depois disso ainda tive de ir ao centro da cidade a um Amazon Locker buscar o kit de reparações do fogão, que me tinha esquecido de comprar a tempo… só que depois de fazer tudo certinho pela app, a porta do cacifo não abriu e apareceu uma imagem de erro! Espero que devolvam o dinheiro e entretanto terei de arranjar uma alternativa...
Voltei à estrada, tomava agora aquela que me levaria a Zafra e o plano seria ficar num pueblo qualquer a caminho. Já tinha perto de 55km quando cheguei a “Corte de Peleas”. Era uma vila pequena e pacata, onde quase não vi ninguém durante os 15 minutos em que percorri as suas ruas procurando algo que me indicasse a possibilidade de um lugar para dormir. O Ayuntamiento já estava fechado há umas horas, as piscinas já deviam ter fechado há uns meses, e quando me dirigia para a escola vi a Casa de Cultura e o Hogar dos Pensionistas, vulgo café dos reformados. Aí perguntei por um lugar abrigado da chuva para montar a tenda
- La romaría! La romaría!
A romaria era um grande parque quase fora da cidade, com uma ermida e uns banhos públicos com um pequeno telheiro, onde poderia pernoitar. Era o lugar perfeito! Para aí fui e pus-me a cozinhar até ser quase de noite. Comi a típica massa com salsichas e montei a tenda. Ainda passou um grupo de adolescentes para cima e para baixo e desejaram-me bom apetite! Deitei-me cedo e apesar de passarem alguns carros por perto durante a noite, dormi muito bem.
Dormi tão bem que entre acordar e dar uns apertos na bicicleta eram quase 11 quando comecei o dia outra vez. À saída do pueblo, vi dois rapazes da minha idade de volta de uma mota, dentro de uma garagem, e perguntei-lhes se tinham água - entre a que usei para cozinhar e a que bebi, já quase não me restava nada e não convinha começar o dia sem água! Rapidamente um deles me foi buscar duas garrafas com as quais encheu os também dois bidons que levava na bicicleta. Ainda hablamos un rato e perguntaram-me se não preferia ir na mota deles em vez de na bicicleta. Seria demasiado fácil!
Longas plantações a perder de vista que se iam vendo pelo caminho |
Pelo caminho até Zafra passei por dois outros pueblos: “Villalba de los Barros” e “Fuente del Maestre”. Neste último, procurava um supermercado quando, depois de comprar uma coca-cola numa bomba de gasolina, perguntei ao senhor que aí trabalhava onde era o mais próximo. Já de sua idade, o senhor fez questão de vir comigo até à beira da estrada e, num pequeno caderninho que sempre deve ter guardado para estas ocasiões, desenhou duas setas curvas à direita, enquanto me dizia que devia virar na próxima à direita e logo a seguir também.
A senhora daquela pequena loja era simpática e apesar de vender maioritariamente guloseimas, tinha umas outras prateleiras onde pude encontrar molho de tomate e massa. Comprei também um chocolate e batatas fritas. Pedi indicações para Zafra, e uma vez nessa estrada passei por algumas zonas de criação de porcos, em que os via fechados em recintos, de um lado e do outro da estrada. Não sei o que comiam, mas de cores só distinguia o castanho do seu pelo e o castanho da lama que espezinhavam.
Em Zafra perguntei a um senhor que estendia roupa na varanda, com uma bicicleta pendurada por trás, onde eram os bombeiros. Segui as indicações que me deu e como a campainha não funcionava, liguei para o número de telefone que estava no portão do quartel. Perguntei se havia a possibilidade de montar por ali a tenda, mas disseram que depois da pandemia muitas restrições foram implementadas e que não seria possível. Ainda assim, perguntaram se me podiam ajudar de mais alguma forma e pedi se era possível pelo menos tomar banho. Há 2 noites que não o fazia e seria incrível poder dormir limpo hoje! Foram extremamente simpáticos, especialmente o David, com quem ainda fiquei a conversar bastante e que me sugeriu tentar na polícia por algum sítio onde acampar.
Por terras de Espanha, já sinto que, de facto, viajo. As estradas têm sido longas retas que cortam por plantações. Quase como se alguém tivesse olhado para o mapa, traçado nele uma linha e dito: “Será por aqui!”. As poucas curvas até se estranham quando aparecem, mas o silêncio não...
Esse está sempre a fazer barulho.
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