De manhã tomei o pequeno almoço com o resto dos hóspedes. Um casal de alemães, um de polacos, mais velhos, e as voluntárias. Fiquei a escrever no computador e depois de arrumar tudo, saí.
Fui sem pensar em muita coisa, apenas escutando música. O caminho não era complicado, segui sempre pela estrada nacional que ia emdireção a Tiznit. Pelo caminho parei para comprar fruta , coca-cola e bolachas.
Estava avançar bem e por isso tentei chegar até perto de Tiznit e aí procurar por alguma bomba de gasolina. Cheguei à Afriquia, onde o dono me deixou passar a noite num anexo que usavam para guardar a sua mota. Outro rapaz, o Karim, que trabalhava ali, tambem foi sempre muito simpático E conversador.
Deixaram-me cozinhar na cozinha deles. Fiz couscous e ovos mexidos, outra vez. Depois fiquei no café, que tinha internet, a ver o Sporting X Guimarães e a conversar com o Karim. Fui-me deitar perto das 23h e, na manhã seguinte, depois de arrumar tudo, o Karim convidou-me para um café e para uma sandes de queijo. Quis que eu lhe tirasse umas fotos para o instagram com a minha máquina fotográfica e, por isso, foi rapidamente trocar de roupa e voltou um rapper americano.
Despedimo-nos e segui o meu caminho. Passei Tiznit muito rapidamente e dirigi-me para a costa. Algumas subidas íngremes no caminho fizeram-me ter de empurrar a bicicleta à mão, mas já sentia a brisa do mar a refrescar o ar que, juntamente com o protetor solar me lembravam Portugal. A Costa da Caparica e o Algarve no Verão.
Antes de Mirleft parei num pequeno mercado para compear maçãs, manteiga de amendoim e ovos. Cozinhei ali porque já me sentia fraco e com bastante fome, mas isto fez com que ficasse com bastante sono logo a seguir a comer.
Tentei nao dar muitos ouvidos à vontade de dormir e segui estrada. Passei Mirleft onde apreciei a praia que tinha uma rocha ao centro. Deixei a bicicleta no paredão e fui molhar a cara à água, quando voltei um pai e filho marroquinos meteram conversa comigo, queriam saber de onde vinha e para onde ia. No final deram-me 50 dirhams!
Queria ainda aavançar um pouco mais, até perto de Sidi Ifni. Vira no ioverlander que por essa zona haviam alguns bons sitios para acampar. Foi até aí que fui, numa bela estrada avistando sempre o mar à direita e verdes montanhas à esquerda. Quase nem tinha de pedalar em esforço.
Cheguei à ponta de uma de várias línguas de terra onde, pela frente, apenas havia mar. Montei a tenda. Passavam alguns pescadores, sempre amigáveis. Por trás de mim, havia uma casa com dois pequenos cães que apenas queriam festas. O dono não estava, mas no google maps diziam ser simpático.
Apareceu um grupo de 15 ou 16 casais italianos numa excursão, apenas para tirar fotos, e ainda estivemos um pouco à conversa. Depois fiquei a apreciar a paisagem sozinho e a ler um bocado de “Les adventures de Tom Sawyer” que ccomprara em Agadir em 2ª mão.
No dia seguinte, parei em Sidi Ifni para comprar pão que acabava de sair do forno. Vinha a escaldar. Sentei-me numa paragem de autocarro a comer e sentia-me com pouca energia. Já fazia calor àquela hora e o caminho que me esperava não seria fácil. Tive de empurrar a bicicleta por bastante tempo e dormi a sesta numa sombra de uma loja na aldeia antes da maior subida desse dia.
Vou percebendo aos poucos a influência do cansaço e da alimentação na minha motivação e nos meus pensamentos. Quando me começo a sentir mais negativo tento recordar-me se descansei bem ou se comi be. Normalmente estas são as causas dos momentos em que me sinto mais em baixo.
Depois dessa grande subida era sempre a descer até Guelmim. A Zineb, minha host do couchsurfing em Rabat, tinha-me dado o contacto do Abdelhadi que vivia em Guelmim e que viajara recentemente de bicicleta até à Costa do Marfim. O Abdelhadi, como não estava na cidade nesse dia, deu-me o contacto do Zarragane, só que ele vivia a 30km de Guelmim e noutra direção. Por sua vez, o Zarragane deu-me o contacto do Blal que vivia no oásis de Tighmert. Foi, então, para aí que me dirigi.
Tighmert é um sítio incrível, literalmente um oásis. À sua volta a paisagem é desértica, mas ali encontra-se um lugar mágico que os faz sentir que viajámos para outro sítio. Caminhos de terra e palmeiras, casas feitas de lama, carreiros que levam água às casas,...
Quando cheguei ao “Jardin de vie”, espaço do Blal, ele não estava, pelo que mandou alguém me vir abrir a porta. Cozinhei e fui dormir e na manhã seguinte perguntei-lhe se poderia ficar uma noite mais, para descansar. Ele foi incrivelmente simpático e fez-me sentir completamente em casa. Aproveitei para trocar a corrente à bicicleta e dar uma volta pela vila, escrever e ler.
À noite, vieram uns amigos do Blal para jantar. Eles eram muito musicais e trouxeram as guitarras. Cantavam imenso e senti-me feliz. Fomos buscar folhas de palmeira secas e fizemos uma fogueira e depois comemos Tagine de dromedário. Acabámos a festa às 2 da manhã, pelo que hoje já acordei tarde e o meu plano de sair cedo pela manhã teve de ser reforeformulado.
Não consegui deixar o oásis sem ser convidado novamente para um chá e um tagine, mas desta vez de frango. Saí um pouco mais tarde do que queria, ainda tinha de passar por guelmim para levantar dinheiro, comprar comida e carregar internet no telemóvel. Até à cidade apanhei imenso vento contra, pelo que demorei o dobro do tempo a chegar. Quando entrei na estrada que me levava para sul já o sol se estava a pôr e, apesar de belo, começou a ser também um pouco assustador.
Tinha a luz vermelha de trás, mas nao encontrava a da frente, e por isso coloquei o telemovel preso ao guiador com a lanterna ligada.
Tinha o contacto do Slama, que estava a construir uma quinta no meio do deserto, a 20kms dali. Fui pedalando rápido e lutando contra o vento, tentando manter a bicicleta estável. Nem sempre foi fácil. Estava tudo escuro e apenas os carros que padsavam me iluminavam o caminho.
Por fim, encontrei-o à minha espera à beira da estrada. Ainda caminhámos meia hora até uma pequena casa com os seus 3 cães de guarda. De dia é que reparei no grande tanque de água, nos painéis solares e nos campos que ele tinha preparado para mais tarde cultivar.