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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Hora de partir!

         

        Está na hora de partir. Outra vez.


Amanhã sairei de manhã em direção a Agadir, onde espero chegar dentro de 3 ou 4 dias. Hoje foi o primeiro dia depois do Ramadão, a que chamam Eid. De manhã, bem cedo, a cidade concentrou-se para rezar em 2 ou 3 largos terrenos onde inúmeros longas esteiras haviam sido estendidas. Para lá chegar, segui os vários grupos de pessoas que caminhavam com o seu sajjadat (tapete individual para reza) na mão, de Djellaba vestida e taqiyah na cabeça.

Quando cheguei, já bastantes pessoas esperavam sentadas nos calcanhares, com as sandálias e chinelos à frente, enquanto se ouvia repetidamente uma mesma gravação 


        - Allahu Akbar Allahu Akbar La ilaha illallah (Allah é grande, Allah é grande. Não há outro Deus senão Allah).







Até que o Sol se começou a fazer sentir, ao subir mais alto que os prédios que nos circundavam. Era por volta das 7 da manhã quando todos se levantaram e começaram a rezar, guiados pelo Imam. Depois de nos ajoelharmos e de nos levantarmos várias vezes, o Imam começou a ler um discurso e, quando acabou, a multidão moveu-se e calçou-se e começou a deixar livres os seus lugares - era tempo de ir embora.


Já tinha tido a experiência de rezar numa mesquita uns dias antes. Aconteceu bastante espontaneamente. Precisava de alterar uma peça na bicicleta para que o guiador ficasse mais alto e a posição mais confortável e decidi parar numa loja de bicicletas que desbori numa das minhas voltas pela cidade - em Kelaa usa-se muito a bicicleta e, por consequência, há muitas lojas de bicicletas onde já tinha tentado resolver esta questão mas sem sucesso. O dono desta loja, o Mustafa, disse que não tinha a peça que procurava mas que me levaria a outra pessoa que me poderia ajudar. Fui passando lá todos os dias e começava a suspeitar que não ia conseguir arranjar uma solução, dado que ora a loja estava fechada ou ele não estava lá, mas eventualmente o encontrei e levou-me a um familiar serralheiro muito talentoso que tirou as medidas necessárias e que em 2 dias preparou a peça que procurava. No final de tudo, ficámos à conversa e o Mustafa acabou por me convidar para ir rezar e para me juntar a ele no iftar - tinha curiosidade de experimentar mas não sabia o que fazer, assim seria mais fácil!




Resultado final

Levou-me a sua casa, conheci toda a família, as irmãs, sobrinhos, primos e incluindo o filho de um ano que durante a refeição estava constantemente a pegar na minha colher de sopa e a salpicar toda a gente, não me deixando acabar a ‘harira’ (uma sopa castanha com grão e massa que se come muito nesta altura do Ramadão). Lavámos a cara, as mãos e os braços, calçámos uns chinelos e dirigimo-nos para a mesquita mais próxima de sua casa, enquanto encontrávamos outros conhecidos pelo caminho. Colocámo-nos na 2a fila de pessoas que, lado a lado, esperavam o início da reza. Era difícil para mim aguentar tanto tempo sentado nos calcanhares quando isso era necessário, mas ali via gente de toda as idades que faziam aqueles movimentos 5 vezes por dia e que, por isso, não apresentavam qualquer dificudade.



Onde dormi nessa noite


Em casa, conversei muito com os seus familiares através do tradutor, ligaram a outros primos que viviam em Espanha para que falassem comigo e convidaram-me para ali dormir. Fomos à mesquita uma outra vez antes de nos deitarmos e às 4h da manhã, depois de comermos, de novo. Nesse dia comprometi-me a experimentar o jejum, já que estava minimamente inserido nesses horários. Não foi de todo difícil aguentar até perto das 19h para comer outra vez, talvez num dia mais quente ou mais exigente pudesse não ser tão fácil, mas ainda assim duvido dos inúmeros benefícios que se atribuem a esta prática.







No dia anterior, tinha sido o 27º dia do Ramadão, outra data importante. A mesma aluna que me convidara e à outra voluntária anteriormente, voltou a convidar-nos para nos juntarmos à sua família para comer couscous ao iftar. Comemos com as mãos, fazendo bolas de couscous. Estava mais uma vez delicioso e gosto da sensação de comermos todos do mesmo prato, ao invés de cada um ter o seu. Ainda vestimos uma Djellaba para a fotografia, jogámos às cartas e fizemos pinturas com Henna.




"Inshallah Ramadan Karim"


A minha estadia aqui terminou e noto uma grande diferença na minha capacidade de comunicar, de me adaptar a cada aluno e acho que gostaria de saber ensinar de uma maneira mais qualificada. Foi um desafio muito interessante, ainda mais por muitas vezes não falar nenhuma língua em comum com os estudantes, tendo de explicar o significado de palavras e de conceitos sem recorrer a nenhuma tradução. Fiz boas amizades e tive boas conversas, aprendi muito sobre o Islão e sobre diferentes formas de vida.


        Agora, é hora de partir!

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